MEDICALIZAÇÃO, SEGURANÇA, INCLUSÃO
MEDICALIZATION, SECURITY, INCLUSION
Resumo
Neste artigo, problematizam-se as práticas assistencialistas sociomédicas erigindo interfaces diagnósticas nos encaminhamentos entre educação, saúde e educação especial, cristalizando-se como exigências de trabalho ao psicólogo e pedagogo nas escolas de nível fundamental. O tipo de diagnóstico que analisamos, particularmente, é o de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade – TDAH, baseando-nos no campo de intervenção das escolas de nível fundamental e suas articulações com uma escola especial e equipamentos de saúde mental, em uma cidade do interior sul do estado do Rio de Janeiro. Destacamos que as nosologias que atravessam o campo de análise adquirem sentidos diversos na rede intersetorial local, e surgem múltiplos estratos de produção: a partir da família-cliente da escola, dos profissionais de educação, entre outros. A medicalização na educação é definida como uma instituição de segurança, e o referencial teórico é o de autores que configuram e problematizam o conceito como lllich, Szasz, Conrad, e daqueles do campo da filosofia da diferença, que pensam a segurança como Foucault e Gros, bem como da análise institucional: Lourau, Lapassade, Hess, Guattari. Questionamos: quais os limites e como seria a ultrapassagem possível dos muros do assistencialismo médico-securitário nas práticas escolares? Em meio às biopolíticas contemporâneas de segurança nas escolas em estudo, como poderíamos dar visibilidade à educação inclusiva criadora? Qual a relação entre as práticas ditas inclusivas e a medicalização? Como seria, nas escolas regulares, especiais e em suas articulações gerais, a atenção educacional especializada e uma inclusão potente?
Abstract
In this article, the socio-medical assistentialist practices are questioned by erecting diagnostic interfaces in the referrals between education, health and special education, crystallizing as job requirements to the psychologist and pedagogue in primary level schools. The type of diagnosis that we analyze, in particular, is Attention Deficit Disorder and Hyperactivity Disorder (ADHD), based on the field of intervention of primary level schools and their articulations with a special school and mental health equipment in a city of the southern interior of the state of Rio de Janeiro. We emphasize that the nosologies that cross the field of analysis acquire different meanings in the local intersectoral network, and there are multiple layers of production: from the client's family of the school, from the professionals of education, among others. The medicalization in education is defined as a security institution, and the theoretical reference is that of authors who configure and problematize the concept as lllich, Szasz, Conrad, and those in the field of philosophy of difference, who think safety as Foucault and Gros, as well as the institutional analysis: Lourau, Lapassade, Hess, Guattari. We ask: what are the limits and what would be the possible overcoming of the walls of medical-safety assistance in school practices? Amid the contemporary security biopolitics in the schools under study, how could we give visibility to creative inclusive education? What is the relationship between so-called inclusive practices and medicalization? How would it be, in regular, special schools and in their general articulations, specialized educational attention and a powerful inclusion?
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