MEDICALIZAÇÃO, SEGURANÇA, INCLUSÃO

MEDICALIZATION, SECURITY, INCLUSION

  • Davi Cavalcante Roque da Silva
  • Elisa Ferreira Silva de Alcantara

Resumo

Neste artigo, problematizam-se as práticas assistencialistas sociomédicas erigindo interfaces diagnósticas nos encaminhamentos entre educação, saúde e educação especial, cristalizando-se como exigências de trabalho ao psicólogo e pedagogo nas escolas de nível fundamental. O tipo de diagnóstico que analisamos, particularmente, é o de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade – TDAH, baseando-nos no campo de intervenção das escolas de nível fundamental e suas articulações com uma escola especial e equipamentos de saúde mental, em uma cidade do interior sul do estado do Rio de Janeiro. Destacamos que as nosologias que atravessam o campo de análise adquirem sentidos diversos na rede intersetorial local, e surgem múltiplos estratos de produção: a partir da família-cliente da escola, dos profissionais de educação, entre outros. A medicalização na educação é definida como uma instituição de segurança, e o referencial teórico é o de autores que configuram e problematizam o conceito como lllich, Szasz, Conrad, e daqueles do campo da filosofia da diferença, que pensam a segurança como Foucault e Gros, bem como da análise institucional: Lourau, Lapassade, Hess, Guattari. Questionamos: quais os limites e como seria a ultrapassagem possível dos muros do assistencialismo médico-securitário nas práticas escolares? Em meio às biopolíticas contemporâneas de segurança nas escolas em estudo, como poderíamos dar visibilidade à educação inclusiva criadora? Qual a relação entre as práticas ditas inclusivas e a medicalização? Como seria, nas escolas regulares, especiais e em suas articulações gerais, a atenção educacional especializada e uma inclusão potente?


Abstract


In this article, the socio-medical assistentialist practices are questioned by erecting diagnostic interfaces in the referrals between education, health and special education, crystallizing as job requirements to the psychologist and pedagogue in primary level schools. The type of diagnosis that we analyze, in particular, is Attention Deficit Disorder and Hyperactivity Disorder (ADHD), based on the field of intervention of primary level schools and their articulations with a special school and mental health equipment in a city of the southern interior of the state of Rio de Janeiro. We emphasize that the nosologies that cross the field of analysis acquire different meanings in the local intersectoral network, and there are multiple layers of production: from the client's family of the school, from the professionals of education, among others. The medicalization in education is defined as a security institution, and the theoretical reference is that of authors who configure and problematize the concept as lllich, Szasz, Conrad, and those in the field of philosophy of difference, who think safety as Foucault and Gros, as well as the institutional analysis: Lourau, Lapassade, Hess, Guattari. We ask: what are the limits and what would be the possible overcoming of the walls of medical-safety assistance in school practices? Amid the contemporary security biopolitics in the schools under study, how could we give visibility to creative inclusive education? What is the relationship between so-called inclusive practices and medicalization? How would it be, in regular, special schools and in their general articulations, specialized educational attention and a powerful inclusion?

Referências

CALIMAN, Luciana. A constituição sócio-médica do fato TDAH. Psicologia & Sociedade, 2009.

CONRAD, Peter. Medicalization – on the transformation of human conditions into treatable problems. Baltimore, Maryland, USA: The John Hopkins University Press, 2007.

HESS, Remi. O momento do diário de pesquisa da educação. In: Ambiente & Educação, vol. 19. Rio Grande: FURG, 2009.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: Nascimento da prisão. 30 ed. Petrópolis: Vozes,1987.

______ Os Anormais. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

______ A verdade e as formas jurídicas. 3 ed. Rio de Janeiro: Nau, 2002.

______ Segurança, território, população: curso dado no Collège de France (1977-1978) - São Paulo: Martins Fontes, 2008.

GROS, Fredéric. Le principe securité. Paris: Gallimard, 2012.

GUATTARI, Félix. As três ecologias. Campinas: Papirus, 1990.

ILLICH, Ivan. The medicalization of Life. In: Journal of Medical Ethics, 1975. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1154458. Acesso em: 18 out 2016.

LAPASSADE, George. Grupos, organizações, instituições. Rio de Janeiro,
F. Alves, 1977.

LOURAU, René. Análise Institucional e práticas de Pesquisa. Rio de
Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 1993.

PAULON, Simone Mainieri; ROMAGNOLI, Roberta Carvalho. Pesquisa intervenção e cartografia: melindres e meandros metodológicos. In: Estudos e pesquisas em Psicologia. Rio de Janeiro: UERJ, 2010. p.85-102.

SZASZ, Thomas. The therapeutic State – the tyranny of pharmacracy. In: The Independent Review, v.V, n.4, Spring 2001.

VARELA, Julia; ALVAREZ – URIA, Fernando. Arqueologia de La Escuela.
Madrid: Endymion, 1991.

ZOLA, Irving Kenneth. Medicine as an institution of social control. In: The Sociological Review, Volume 20, Issue 4 de Novembro de 1972, PP. 487-504. Disponível em:
Como Citar
SILVA, Davi Cavalcante Roque da; ALCANTARA, Elisa Ferreira Silva de. MEDICALIZAÇÃO, SEGURANÇA, INCLUSÃO. Episteme Transversalis, [S.l.], v. 10, n. 1, abr. 2019. ISSN 2236-2649. Disponível em: <http://revista.ugb.edu.br/ojs302/index.php/episteme/article/view/1291>. Acesso em: 29 mar. 2024.